A noite aponta-me um 38 rente à nuca e dispara o medo que me traspassa os miolos, ricocheteia pelas entranhas do breu a lançar um grito lancinante que mancha a lua cheia de taciturno pavor. Fujo dos pardos respingos que a lua lança sobre mim. Na esquina, faíscas crepitam num intenso frenesi até que a pedra evapora-se e dissolve as ânsias, náuseas e dores existências que atormentam a mente.
Desvencilho-me da escuridão que alcochoa no chão um grupo de africanos ou haitianos refugiados, abrigados pelo relento, à porta do albergue que somente durante o dia os acolhe. Desnorteado, dirijo-me aos meios-fios repletos de luz da Paulista. O amanhecer se achega junto ao passo de quem madruga para exercitar-se, acelerando a manhã que se desoxida a plenos pulmões.
As grafites outrora espalhadas pelas paredes e muros da cidade se estendem sobre a pele do paulistano. Para não dizer, na pele do brasileiro. Tatuar-se está na moda. Assim observo e reflito sobre os corpos-aquarelas que transpiram expostos e a despertar o domingo.
Enquanto o sol expande o dia, aperto o passo e corro para debaixo dos lençóis, onde as horas se outonam e desfolham o tempo como um existir entre brisas.